Esclarecimento

17-01-2011 12:04

Conforme observou o/a leitor(a), as declarações da Daniela Romba e da mãe são públicas e fazem alusão ao meu nome, o facto autoriza-me a falar deste caso particular e, consequentemente, poder utilizá-lo como exemplo para elucidar os demais quanto aos métodos de funcionamento da terapia.

Devo esclarecer que antes de ter iniciado as consultas comigo, a Daniela foi acompanhada por outros especialistas em Espanha, Algarve, Setúbal e Lisboa (conforme refere no seu Blog). E durante 3 anos e meio frequentou as consultas de Psiquiatria no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

A verdade é que nada havia alterado o estado de saúde da Daniela Romba, muito pelo contrário, o seu quadro clínico agravava-se de dia para dia (isto é confirmado pela mãe no registo de áudio).

Por este motivo, lamento que na entrevista televisiva, conduzida pela apresentadora Júlia Pinheiro, não se tenha falado das verdadeiras causas que afectavam a personalidade e o comportamento da Daniela, estimulando-lhe o distúrbio alimentar. Foi mais apetecível passar a mensagem à opinião pública que a Anorexia/Bulimia se devia ao desequilíbrio emocional provocado pelo rompimento do namoro na pré-adolescência (aos 13 anos de idade). Mas não é verdade, porque a situação era muito mais complexa, talvez por isso nunca a tenham conseguido curar.

A paciente compareceu na primeira consulta comigo no dia 19/10/2009. O quadro clínico era deveras complexo, encontrava-se fisicamente debilitada e evidenciava perturbações psicológicas, nomeadamente: baixa auto-estima, melancolia, desinteresse pela vida e pelas coisas, não participava do convívio social e o que lhe despertava algum interesse era o computador e a televisão, fora isso, nada mais a motivava. Na primeira consulta senti que havia uma barreira a transpor ao nível da comunicação, pois a Daniela estava mergulhada no vazio: não falava, não esboçava sorriso – a sua apatia era preocupante -, sinal de que algo muito profundo a afectava. A alimentação resumia-se a maçã, cenoura, alface e, muito excepcionalmente, clara de ovo e hambúrgueres de soja. Mesmo assim, o pouco alimento ingerido deitava-o fora.

Do ponto de vista clínico, sobressaiam dois aspectos traumáticos que concentraram a minha atenção: um tinha a ver com a vida intra-uterina, o outro com a repulsa que mantinha em relação à irmã do meio, com menos 10 anos do que ela.

Sim, os danos emocionais também podem resultar do período da gestação, porque o feto faz parte do universo corporal da mãe, e todas as emoções vividas são passadas ao ser que transporta no ventre. Se a mãe estiver desgostosa e com grande ansiedade, o feto também fica angustiado e quando nascer trará consigo esse estado de espírito. Em relação à Daniela, a experiência vivida no ventre materno não foi efectivamente a melhor, a mãe ficou grávida da Daniela seis meses após ter perdido o primeiro filho, de apenas cinco anos de idade. Foi uma dor muito forte que teve repercussões inevitáveis na segunda gravidez. Daí a permanente angustia da Daniela, que só terminou quando eu lhe operei a ab-reacção (psicocatarse) no decurso do tratamento.

A repulsa que tinha em relação à irmã nasce de uma inabilidade de quem não entende o significado do trauma psicológico. Uma criança de 6 anos não tem a mesma capacidade analítica da pessoa adulta, a sua estrutura mental e intelectual está ainda muito débil e qualquer comportamento inadequado pode deixar sequelas traumáticas para toda a vida. Foi o que aconteceu com a Daniela, quando tinha seis anos. Ela encontrava-se no hospital, numa sala ao lado da sala de parto, assim que nasceu a irmã levaram-na para a sala de parto, sentaram-na numa cadeira e colocaram a irmã ao seu colo, sem que previamente tivessem acautelado a limpeza da criança recém-nascida. Esta experiência traumática perseguia a Daniela, por esse facto, rejeitava comer carne e outro tipo de alimentos que, por associação, lhe fazia despertar do inconsciente a repugnância que sentira aos 6 anos de idade. A verdade é que a repulsão sempre existira e a Daniela evitava a irmã, mas os pais não percebiam a razão de tal procedimento, nem tão pouco os psiquiatras que a acompanharam ao longo de 3 anos e meio. Esta anormalidade psicológica ficou totalmente sanada nas minhas consultas e a Daniela mantém, hoje, uma excelente relação com a irmã. A rejeição à carne e outro tipo de alimentos desapareceu. A Daniela encontra-se literalmente curada.

Devo, entretanto, acrescentar o seguinte: no programa televisivo deu-se grande destaque ao rompimento do namoro, na pré-adolescência, como causa do distúrbio alimentar, apesar da Daniela e a mãe estarem perfeitamente conscientes que essa não havia sido a origem da Anorexia/Bulimia. Contudo, não o puderam rebater porque não estava em questão aprofundar a verdade, o objectivo do programa centrava-se unicamente nos distúrbios alimentares e a temática tinha que ser abordada de uma forma genérica. Lamento que o tenham feito desta forma.

Compreendo que o/a leitor(a) se interrogue quanto à probabilidade da quebra de sentimentos amorosos na pré-adolescência e/ou adolescência desencadear perturbações psicológicas ao ponto de estimular distúrbios alimentares (Anorexia/Bulimia). É verdade que tal pode acontecer, mas temos sempre que analisar caso a caso. Passo a explicar melhor, retomando o exemplo da Daniela: no decurso da Anamnese percebi que estava na presença de uma família estruturada, de afectos, onde reina o bom ambiente familiar, requisitos muito importantes para a formação psicológica do indivíduo. E quando assim sucede, a adolescente pode até ficar abalada nos sentimentos, mas esse dano emocional tende a ser temporário e não provoca sequelas de outra dimensão, porque os pais estão sempre presentes e atentos. O mesmo não se poderá dizer dos pais presentes/ausentes, distraídos no acompanhamento dos filhos e, geralmente, são desprovidos de afectos. É devido a estas circunstâncias que se torna necessário analisar caso a caso, porque as experiências de vida são distintas de indivíduo para indivíduo.

A mãe da Daniela referiu no depoimento para a Rádio S. Brás (consta no registo de áudio, em cima), “… as primeiras consultas não estavam a dar resultado, deu certo com os outros, mas com a minha filha estava a levar tempo…”

Vejamos outros disparates proferidos na TVI, disse a Daniela: “Eu não sei bem o que ele me fazia… deitava-me e eu dormia… mas devia dizer-me que eu ia ter montes de fome, porque eu saia das consultas e só me apetecia comer… passado uma semana eu comia, comia… mas sentia-me mal porque já não era eu quem controlava a situação… tinha as veias dos olhos rebentadas e a boca em sangue… mas depois voltei à consulta e tratamos dessa parte em que ele despertou a fome e a partir dai tenho comido normalmente.” Bem, devo dizer que desconhecia em absoluto que tal situação tivesse ocorrido da forma em como é relatada (veias dos olhos rebentadas, boca em sangue), tomei conhecimento do absurdo pela televisão. Sabia, isso sim, que após eliminar os traumas psicológicos e ter-lhe estimulado a fome, a Daniela passou a comer com alguma avidez, mas prontamente lhe ajustei a vontade compulsiva de comer quando ela compareceu na consulta seguinte (oiça as minhas explicações e o que diz a mãe da paciente sobre esta matéria na Rádio S. Brás, registo de áudio, em cima).

Estas descrições são, por vezes, mal interpretadas: “… as primeiras consultas não estavam a dar resultado…” ou, ainda: “… passei a comer compulsivamente…” São frases que não fazem qualquer sentido, porque se fala apenas de situações pontuais do tratamento, mas não se explica o árduo trabalho que foi necessário desenvolver para se chegar onde se chegou. Comigo exigia-se prontidão onde os outros haviam falhado durante três anos e meio, em que o estado de saúde da paciente se vinha agravando de dia para dia. Mas, parece-me que valeu a pena acreditar no meu trabalho, porque a Daniela Romba ficou curada.

O processo de estimular a fome é o mesmo que eu aplico para as pessoas obesas que desejam perder peso, claro que em sentido inverso, ou, ainda, para provocar a hipertermia hipnótica e calcinar tumores, curando os doentes de cancro.

Ainda a propósito, devo informar que a citada paciente fez 24 consultas – uma consulta por semana -, com a duração de 6 meses. Entretanto, se escutou os dois registos de áudio, na página inicial, terá ouvido uma outra paciente (Vera) dizer que ficou curada da depressão e fibromialgia em apenas um mês e meio. Existe, então, uma discrepância que necessita de explicação: a Daniela comparecia nas consultas uma vez por semana, a outra paciente fez as consultas seguidas, em todos os dias úteis da semana, totalizando 29 consultas. Então, afirmar-se que pode levar um certo tempo é relativo, tudo depende da vontade dos pacientes.

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